Entre o céu e o inferno –  Sirât, de Oliver Laxe

Sirât é uma palavra de origem árabe que, para os muçulmanos, representa a travessia feita no dia do julgamento final. Todos terão de percorrer esse caminho rumo ao paraíso ou ao inferno: “Uma ponte mais fina do que um fio de cabelo e mais afiada do que uma espada” é assim que o diretor Oliver Laxe apresenta o conceito ao espectador na introdução de Sirât (2025), vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano e responsável por causar alvoroço na Croisette.

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“Amores materialistas”: amar nos tempos do capitalismo

Com um atraso um tanto inexplicável desde a estreia nos Estados Unidos e Europa, seguido de um exagero de sessões dubladas nesta semana de estreia no Brasil, Amores Materialistas (Materialists, 2025) chega às salas de Pelotas. Dirigido e roteirizado por Celine Song — do excepcional Vidas Passadas (Past Lives, 2023) —, a produção agora estrelada pelo trio Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans é uma ótima surpresa ao apresentar um romance acessível, mas que esconde uma deliciosa armadilha.

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O esquema de Wes Anderson

É certo dizer que Wes Anderson é um cineasta enfadonho que se tornou refém da sua própria estética. Os enquadramentos simétricos, os movimentos de câmera minimalistas e as atuações engessadas: começamos amando, mas, nos últimos anos, parece ter virado um grande ensopado de mais do mesmo. Não que O Esquema Fenício (2025), que (felizmente) continua em cartaz nas salas pelotenses, seja uma exceção. Pelo contrário, é exatamente tudo isso — mas com “alguns poréns”. Anderson revisita com cuidado e esperteza temas caros ao seu cinema: paternidade, irmandade e conflitos geracionais.

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Mamãezinha querida: “Jayne Mansfield, Minha Mãe”, de Mariska Hargitay

Jayne Mansfield foi uma figura mítica do folclore hollywoodiano. Englobou de tudo um pouco, mas, essencialmente, foi sempre considerada um produto dos estúdios. Uma espécie de sex symbol que apresentava o clichê da loira superficial e afetada, de voz infantil. Uma vítima de uma época em que os estúdios fabricavam estrelas com um rebranding forçado e muito storytelling inventado, água oxigenada e maquiagem. Mas quem era a mulher por trás disso tudo, não é?

É isso que a também atriz Mariska Hargitay, filha de Mansfield, quer descobrir no documentário Jayne Mansfield, Minha Mãe (2025), disponível na HBO Max. Mansfield faleceu quando Mariska tinha três anos de idade, num acidente fatal de carro. Mariska e seus outros dois irmãos, fruto do casamento de Jane com o ator e modelo Mickey Hargitay, estavam no carro conduzido pelo último marido da atriz, o produtor Matt Cimber. O que sobrou para Mariska foi uma vida sem lembranças da própria mãe, de um vazio presente, muito marcado pela memória dos outros.

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O desafiador cinema brasileiro

Nesta semana em que se comemorou o Dia do Cinema Brasileiro, Homem com H (2025), a cinebiografia de Ney Matogrosso com direção enérgica de Esmir Filho, chegou à Netflix. E não foi apenas à plataforma brasileira, mas também a outros 180 países pela gigante do streaming. Renomeado como Latin Blood, o filme tornou-se um marco entre tantos outros do nosso cinema neste ano que está apenas na metade. Esmir Filho realizou um filme belíssimo, sensual, que emociona e destaca o artista queer importante que Ney ainda é, alguém que rechaça normas, modismos e pudores.

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